É tolice arriscar enlouquecer por causa da vaidade

“É tolice arriscar enlouquecer por causa de vaidade.” Essa frase é atribuída a Diderot, mas eu a ouvi na série O Gambito da Rainha. Em tempos de redes sociais, é possível perceber as mais diferentes narrativas do cotidiano das pessoas. Há aqueles que estão sempre feliz, aqueles que postam apenas suas conquistas, sem mencionar os fracassos que tiveram até obterem êxito. Você vê diferentes narrativas, olha para a própria vida e pensa no que você tem errado até então. O interessante é que nem sempre estas narrativas são reais. São histórias que são vendidas por alguém para que outras pessoas creiam o quanto ele/ela é feliz e realizado.

Porém, há uma outra narrativa que me chama a atenção: são as pessoas que estudam, trabalham, realizam projetos de forma intensa para terem reconhecimento naquela área e para serem admiradas. Todo projeto tem um propósito, mas se este propósito é admiração alheia, creio que o sentimento de frustração será inesgotável.

Nem sempre as outras pessoas nos admiram, percebem e reconhecem nossos esforços. Perseguir objetivos para obter reconhecimento alheio, curtidas e comentários na internet pode levar a uma sensação constante de vazio. E nós não devemos nos encher do outro. Pelo contrário, devemos nos esvaziar do outro e preencher o nosso espaço com nossas ideias, valores, projetos. Quando carregamos os outros conosco, sua aprovação, seu olhar, seus valores, há um espaço que está sendo preenchido que é nosso e apenas nós devemos ocupar.

A sensação de calma e silêncio quando ocupamos o nosso espaço conosco nos permite entender o que somos nós e o que é o outro. Então nossos projetos, vontades e desejos não são frutos de um desejo de aprovação externo, mas estão ligados a um propósito maior de vida que possui um significado muito pessoal.

Quando estudamos, trabalhamos e vivemos intensamente algo porque faz parte de um projeto pessoal, todo o esforço toma outro significado, visto que dependeremos apenas da nossa aprovação, do nosso sentimento em relação ao que foi construído. Não sou contra postarmos nossos êxitos nas redes sociais, desde que este não seja o objetivo final da vida. Postar porque estamos felizes, realizados e em sintonia com o nosso eu, é diferente de postar fotos e relatos nas redes sociais e esperar ansiosamente quantas curtidas, comentários e engajamento teremos.

Não vale a pena nos endividarmos para ostentarmos nas redes sociais uma vida que pode ser um desejo, mas não é a nossa realidade. Não vale a pena exibir relacionamento felizes nas redes sociais se no dia a dia são tóxicos e causam danos físicos e emocionais. Não vale a penas estudar e trabalhar enlouquecidamente para obter a aprovação de alguém. Não vale a pena enlouquecer por acreditar que características que colocaram em nós são nossas. É preciso muita maturidade e discernimento para não se deixar levar pelo caminho enganoso da vaidade. Este é o caminho para a eterna frustração: querer a aprovação das outras pessoas.

Que a cada dia saibamos quem somos nós, o que queremos e que haja um esvaziamento de tudo o que não é nosso. Que a gente se baste. Que persigamos a cada dia a verdadeira autonomia e que o nosso bem estar seja a prioridade das nossas vidas.